10.1.08

dieta fusion

Com ou sem intimidade, as pessoas adoram me perguntar sobre tudo. Quando eu era criança, as perguntas vinham em velocidade de metralhadora: “Você mora aqui ou lá?”, “na sua casa você fala português ou japonês?”, “você vai casar com uma brasileira ou com uma japonesa?”, “você anda de quimono?”, “você tem garfo em casa?” etc. Mas a campeã é “você come sushi todo dia?”. Não, pequenos gafanhotos, eu não como sushi todo dia e nem conheço ninguém que coma. Contudo, acho que o cardápio de casa seja diferente da maioria dos lares brasileiros. A começar pelo arroz nosso de cada dia, que é diferente do Tio João do supermercado. Cozido sem nenhum tempero, apenas água.



Uma ultra moderna panela de arroz da Tiger. Conhecidas vulgarmente como "okamas", porém o termo é politicamente incorreto. "Okama" é o mesmo que bicha, viado, salta-pocinha...

Quando estamos fartos de carnes, peixe e coisas cotidianas, apelamos para ochazuke (que é cotidiano, mas não aqui em casa), que nada mais é que uma porção de arroz com chá (ocha), a conserva que tem em casa ou feita na hora, uma omelete; ou simplesmente as sobras na geladeira. Tá certo que é uma refeição light e duas horas depois dá fome, mas dá uma variada no cardápio que é uma beleza. No dia seguinte voltam os bifes, refogados, massas...


Tigelas com arroz, chá e uma mistura para ochazukes (algas secas, biscoito de arroz).


Mas por que fusion? Porque não importa a origem da receita, sempre se incorpora um ingrediente típico japonês (shoyu? Quase sempre aparece) ou um japanese style na hora do preparo. Se não tem funghi ou portobello para fazer o molho que acompanhará a carne, vai shitake mesmo. Pegadores não funcionam, o negócio é usar hashi. Na falta de vinho, o mirin (saquê culinário) equilibra a acidez e dá o aroma alcoólico. Tempurás de legumes e camarão fazem sucesso, assim como o de jiló, coisa nunca vista nas terras de lá. Só meu pai, que uma vez levou escondido algumas sementes e deu para minha tia plantar. Nasceram os jilós mais amargos da galáxia, mas viraram hit.


Arroz, salada verde, carne, conserva de nabo e misoshiro / arroz, misoshiro, peixe grelhado com nabo ralado / arroz, conserva de pepino, misoshiro, mabu dofu (tofu picante), refogado de frando e salada verde.


Os sushis servidos por aqui também precisaram se adaptar. Já que os peixes que lá nadam, não nadam como cá, o jeito foi ver o que o mercado oferece, como o namorado, muito usado em todos os restaurantes (dos desconhecidos aos badalados). Fora as combinações que os mais puristas torcem o nariz, acho que experimentações são sempre bem-vindas, mas não me venha com sushi de morango e abacaxi!

A culinária japonesa é bem definida, mesmo utilizando os mesmos produtos que os outros países asiáticos usam. Já a brasileira é uma coisa, incorporou as influências de todos os imigrantes que aqui permaneceram. Naturalmente, a gente também. De estrogonofe a charuto, passando por risoto e lasanha, com direito a apple crumble e sachertorte de sobremesa. Ah, no feijão a gente não mexe, mas come com arroz japonês. E eu adoro um queijo ralado por cima.

3 comentários:

Unknown disse...

Apple Crumble é muito bom, e melhor bem simples de fazer. O Irish Stew tb é uma receita típica inglesa ;)

Henne disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Henne disse...

Dieta fusion é muito boa!!!
Comida japonesa é ótima, assim como a brasileira, a italiana... mas misturar os ingredientes... hummm
É tudo de bom!!!