7.2.08

boa noite



Se você me pedir para imaginar a história de um chumaço de algodão que vira cotonete para se vingar das manicures que usaram seus familiares para tirar esmalte, eu imagino. Devo essa imaginação fértil a centenas de coisas, mas principalmente às histórias que ouvi quando criança. Em casa havia, e ainda há, uma coleção com histórias dos Irmãos Grimm, Hans Christian Andersen. Esopo, Arabian Nights... As ilustrações não eram bonitas e nem atraentes, mas os contos estavam lá, no original, sem adaptações – A Pequena Sereia não tinha final feliz e a Bela tinha duas irmãs esnobes... Ah, sim, os livros estavam em japonês. Então, se você me perguntasse quem eram meus autores favoritos, eu responderia “Anderusen” e “Gurimmu kyodai’. Havia ainda um livro com 100 contos do folclore japonês, incluindo Momotaro e a Mulher da Neve (minha favorita). Porém, a mais pedida por mim e minha irmã era a história de Karen e seus sapatinhos vermelhos. Sabe quando você pisa numa barata e precisa ver se ela morreu? Era mais ou menos isso. Eis aqui a história:

Karen sempre sonhou em ter sapatos vermelhos, mas sendo órfã e pobre de doer, nunca pôde comprar um. Durante muito tempo, ela juntou todo tipo de retalho vermelho que encontrou, até costurar um sapato. Feliz da vida, saracoteava pelo bosque e acabou conhecendo uma bondosa senhorinha que a adotou. Ao chegar em casa, a velhinha viu os sapatos de trapos e deu uma risada arrogante. Mandou jogar fora. Karen ficou p! Chegou o dia da primeira comunhão e Karen precisava de sapatos brancos. Na vitrine do sapateiro, havia um par de sapatos vermelhos brilhantes. Karen quis, mas a velhinha disse não. Ainda magoada com o ato da velha, a menina trocou os sapatos brancos pelos vermelhos, e quando entrou na igreja... Escândalo!

A velhinha teve um piripaque e morreu. Triste, Karen voltou pra casa, mas não conseguiu tirar os sapatos. Sentindo-se culpada, ela foi ao velório e todos comentaram seus sapatos vermelhos. De repente, os sapatos começaram a dançar. Karen tentava se controlar, mas seus pés não paravam. Ultraje ainda maior! Ela foi expulsa da igreja e foi dançando em direção ao bosque. Chorando e dançando, ela recebeu a visita de um anjo – essa era a parte que me dava medo. Era um David de Michelangelo com indicador de Tio Sam, envolto por uma luz amarela – que a condenou por desobediência. Perguntou se ela não sentia gratidão por uma senhora bondosa que a acolheu e deu um lar.

Caindo de remorso, mas ainda dançando, Karen pediu perdão. O anjo disse que seria perdoada quando se livrasse dos sapatos. Dançando e chorando, ela encontrou um lenhador. Explicou tudo, o quanto se sentia culpada, e pediu para que ele cortasse seus pés! Com uma lágrima nos olhos, o lenhador atendeu ao pedido. Na ilustração: Karen com cara de grata, com duas muletas e sem os pés; os sapatinhos indo embora, dançando.

Pois bem, este post serviu para enfatizar a importância da literatura infantil. Mesmo passado alguns anos, ok, quase duas décadas, ainda usufruo de seus benefícios. É extremamente importante exercitar e estimular o lúdico. Se você tem filhos, leia para ele e não duvide de sua inteligência. Se você já é adulto, exercite sua capacidade de imaginação.

Nenhum comentário: