31.1.08

o japonês tranqüilo e cinema à flor da pele




O blog andou meio bagaceiro depois do post sobre Ângela Bismarchi. Para compensar, trago um pouco de beleza. Na primeira metade da década de 1990, Kiyonori Toda veio com sua família trabalhar no Rio. Assustado e curioso, ele perambulou pelas ruas cariocas para ver se a cidade era realmente tão violenta e miserável como lhe disseram antes de vir. Numa dessas andanças, ele entrou num sebo e encontrou um livro de um ilustrador alemão. Nas páginas, paisagens e o cotidiano brasileiro em desenhos feito com caneta hidrográfica. Animado, resolveu fazer o mesmo. O que ele não esperava, era que esses desenhos o aproximariam dos curiosos brasileiros. “Certa vez, eu desenhei o rosto de uma pessoa que se aproximou de mim. Aí, me vi numa situação embaraçosa, pois muitas outras pessoas também vieram, uma atrás da outra, me pedindo para também desenhá-las”, diz ele na apresentação do livro que reúne suas ilustrações. O livro chama-se Rio – Cidade Maravilhosa e teve poucos exemplares impressos, dados apenas a amigos antes de voltar ao Japão, em 1994.


Para mim, é impossível ver um filme sem reparar na trilha sonora. A última que gostei e já está no meu mp3 player, é a de Dario Mariatelli para Desejo e Reparação, uma dobradinha com o diretor de Orgulho e Preconceito. Mas a que está há um bom tempo tocando no meu ouvido, são as trilhas de Amor à Flor da Pele e 2046, ambas de Shigeru Umebayashi. Ah, os dois filmes são de Kar Wai Wong. Trilha boa não precisa ser, necessariamente, linda. É preciso que a música case com as cenas do filme, e as de Umebayashi casam perfeitamente com as exageradamente belas seqüências de Kar Wai Wong. Assim como Denny Elfman, Shigeru Umebayashi também veio de uma extinta banda de rock, a EX. Com o fim do grupo em 1984, ele começou a compor para filmes e programas de televisão, já são mais de 40 trilhas. Umebayashi renovou a parceria com o sr. Wong em My Blueberry Nights e está no próximo projeto do cineasta, The Lady from Shanghai.

No vídeo, uma seqüência de Amor à Flor da Pele (já nas locadoras). A música é Yumeji’s Theme.



29.1.08

quero ser gueixa ou blond ambition

Carnaval é alegria! Lembra da Ângela Bismarchi? A viúva que fez quinhentas plásticas, mas só piorou a situação - vale lembrar que ela casou com mais um cirurgião plástico (espero que ele não morra). Então, para ser coerente com o enredo de sua escola (a Porto da Pedra, que homenageará o centenário da imigração), ela decidiu fazer mais uma plástica: usar fios de nylon para ter olhos de japoguesa! Agora só falta tirar as lentes azuis e parar de descolorir o cabelo, ninguém vai duvidar que ela foi importada! Algum tempo atrás, ela fez uma plástica genital para sambar melhor.




Ninguém segura a Bismarchi, minha gente! Para entender melhor o cérebro dessa moça, veja o vídeo abaixo.



26.1.08

mr. sparkle



Só pra dar uma risada neste fim de semana chuvoso. Homer encontrou um sabão em pó japonês com seu rosto estampado na caixa. Intrigado, ligou para a fabricante, que lhe enviou um vídeo com o comercial do produto.


Episódio: In Marge We Trust, 8ª temporada.

ana maria braga



Quando se diz que os japoneses comem curry, isso quer dizer que eles comem à moda deles, um curry bem menos forte e apimentado que o tradicional indiano. Tudo começou na Segunda Guerra, quando no navio só tinha arroz, alguns legumes, um pouco de carne e um condimento diferente que ninguém dava muita bola. Sem saber o que fazer, o cozinheiro misturou tudo e inventou o famoso karê-rice (curry rice) que caiu literalmente na boca do povo. Eles adoram! Sobretudo, porque é simples de fazer, encontrado em qualquer mercado e rende bastante. Ele é vendido em tabletes, chukara – menos ardido / karakuchi – pra quem tem mais coragem; e, dentro destes dois tipos, em diferentes níveis de ardência. O modo de preparo é fácil, escrito no verso da caixa. Basicamente: refogar a cebola, a carne picada, e adicionar batata e cenoura. Acrescentar água fervente e esperar os legumes cozinharem. Desligar o fogo e dissolver o curry. Pode-se acrescentar pedaços de maçã se preferir. Servir com arroz branco.

No vídeo, a simpática Vivian Wei quase perde os dedos cortando legumes, faz cara de confusa, lê o texto, mas consegue mostrar o passo a passo. Parabéns, Vivian, o curry ficou bonito!



Esse “picadinho” indiano pra japa ver também vai bem com pão, o karê-pan. Se tiver curiosidade de experimentar e sem vontade de fazer, passe na Itiriki em São Paulo. Como curry conversa comigo depois de já tê-lo ingerido, prefiro seu primo shityu (stew), um confort food melhor que carne moída com purê de batata. E ótimo revigorante!





Stew é difícil de ser traduzido para o português, talvez a palavra mais correta seria cozido (como li num livro). O wikipedia-pai-de-todos define como diferentes legumes e carnes cozidos juntos. Bom, de qualquer modo, o shichu é diferente do considerado stew original, o irlandês. Não é uma sopa, mas também não é um creme. Ou melhor, é um creme com legumes e carne (ou frango, ou o que quiser) cozidos. Os ingredientes e o modo de preparo são idênticos ao do curry rice, só trocando o tablete por de shichu e acrescentando outros legumes como brócolis e ervilhas. Depois disso, é acrescentado leite e um pouco de manteiga (opcional).

Todo este post serviu apenas para dizer que comi shichu anteontem e estava muito bom! Às vezes os tabletes de stew fazem greve nas prateleiras das lojas especializadas, então, se encontrar, compre mais de um e deixe guardado. Ótimo para dias mais frios!

23.1.08

to-bo and the real girl



Recorro ao imbecil discurso do senador Gilvam Borges (PMDB – AP) em defesa de seu amigo Renan Calheiros para abrir este post: “Nós, homens, desde Adão e Eva estamos sujeitos à sedução das mulheres”. Coitados dos pobres homens, vítimas do pecado chamado mulher! Escolhi as aspas acima porque, embora a considere ridícula, sintetiza a linha de pensamento de alguns homens japoneses. O fato é que eles estão demorando a entender a emancipação feminina e passaram a vê-las como um mal. Sabendo disso, empresas de entretenimento adulto encontraram nessa gente seu público alvo. A Orient Doll fabrica bonecas de silicone para fins sexuais ou simplesmente afetivos. No vídeo, o engenheiro identificado como Ta-Bo diz que mulheres enganam e traem, mas as bonecas não fazem isso (ainda bem, só se for o Chuck). Ele já gastou uma fortuna com elas e TEM (atenção para o sentido possessivo) 100 sex dolls. Medo, muito medo!

O preço das bonecas varia entre mil e 6 mil dólares, fora os apetrechos como acessórios, guarda-roupa e maquiagem. Todas têm feições infantis, já que a sociedade japonesa incentiva o comportamento infantilizado e submisso da mulher. Nada mais irritante que aquelas mulheres com voz e trejeitos de uma criança de cinco anos. Como diz minha irmã, dá vontade de dar um soco. Estranho, muito estranho!




Os idosos também são público-alvo dos fabricantes de bonecos. Os velhinhos japoneses buscam companhia nos interativos bonequinhos Yumel, equipados com sensores e com mais de 1000 frases na memória, eles conseguem fazer combinações e conversar. Os Yumels podem ser programados de acordo com a rotina de seu dono, como lembrar a hora do remédio etc. A Grow lançou esses bonecos no Brasil com o preço médio de 170 reais.




O relacionamento afetivo com bonecos é só uma conseqüência da estranha e silenciosa sociedade japonesa, que como um adolescente rebelde, entra em casa e se tranca no quarto para evitar o contato com os outros. Nessa história toda de dolls, eu prefiro a Bianca do Lars, pelo menos a história é bonitinha. Kkkkkkkk!


22.1.08

arquivo amarelado



Desculpe a péssima qualidade das fotos, mas não dava pra passar em branco. O jornal scaneado não deu muito certo.

Olha só que coisa! 20 anos atrás, mais precisamente no dia 6 de junho de 1988, o Segundo Caderno do Globo comemorou os 80 anos da imigração japonesa com uma matéria de capa. Intitulada “O Império (carioca) do Sol”, o jornalista João Carlos Pedroso faz um traçado do comércio japonês no Rio (Laranjeiras e Flamengo, na verdade). Cita o Kotobuki de Marina Tasaki (antes de se tornar um boom, quando ainda era apenas mercearia) e o Fuji, que continua funcionando, como já citei num post passado. Meu pai também aparece na reportagem com barba de comunista e aspas que duvido que ele tenha dito, pelo menos com essas palavras: “Se a gente não sonha, pensa besteira, briga com a mulher. Para viver, é preciso sonhar sempre”. Pois bem, não só o sobrenome do meu pai está escrito errado (Anam é a mãe!), como o do dono da Fuji também, nenhuma surpresa.



Dona Marina Tasaki (Kotobuki, Benkei) e Yunoki Shirou (Fuji) / Meu pai.

Num box, no rodapé da página, há a programação das comemorações. Apresentações musicais e concertos, mostras de filmes, exposições de artes plásticas e a ilustre presença do príncipe Fumihito, que virá mais uma vez este ano. Na época tinha 4 anos, mas lembro de ter ido ao Municipal para ver a apresentação de taiko do grupo Kodo. Estava de casaco vermelho, achei tudo muito chato e dormi o tempo todo. Que lembrança!

O calendário das comemorações você encontra aqui.

A Folha Online tem um especial sobre a imigração japonesa pra inglês ver, mas vale dar uma olhada.



17.1.08

if i was a rich girl



Em plena São Paulo Fashion Week, aproveito o momento para falar dos modernosos de Harajuku. O bairro de Tóquio é o cenário para as meninas e meninos desfilarem seus styles exclusivos e serem fotografados por jornalistas e turistas. Andar lá, vestido como eu e você, jeans e camiseta, é sentir-se como um peixe fora d’água.




Enquanto o mundinho ocidental já havia experimentado todos os movimentos contestadores do rock, os japoneses ainda não tinham encontrado sua imagem de rebeldia. Cansados do rigor dos costumes milenares e da máxima “todo japonês é igual”, os adolescentes encontraram nas sofisticadas lojas de Harajuku seu manifesto de contestação. E foi assim, no final da década passada, que esse povo passou a ditar moda.

Dentro dessa gente libertária, há subdivisões bem claras. O Visual Band copia o estilo das bandas de rock com um pé no gótico. Marilyn Manson é rei, mas Edward Mãos de Tesoura também é legal. As Gyarus (fale girl com sotaque) e Yamambas vivem no mundo rosa da Barbie, são aquelas meninas com cor de Oompa Loompa, oxigenadas e carregadas de acessórios Hello Kitty (quem será que relançou a febre?). A versão masculina delas são os Surfers, porque eles também querem ir pra Califórnia viver a vida sobre as ondas. Bom, praia e ondas não importam, o que vale é ser loiro parafinado, pele laranja e músculos bem tonificados





Esqueça a Lolita do Nabokov, as de Harajuku ou são românticas de dar cárie, mas também são safadinhas. Vestem muita renda e carregam bichinhos de pelúcia, princesas distorcidas do século XVIII. As mais provocativas preferem os modelos vintage, meias até o joelho e maria-chiquinha. Mais próximas das Lolitas estão as Kireime, são comportadas e mantêm a pele bem branca e maquiagem leve. Se Band, Gyaru, Surfer e Lolita são os estilos mais badalados, há o outro lado. A turma underground é a Ura-hara (Ura Harajuku, atrás de Harajuku). São mais velhos e, talvez, os cabeças dessa gente. Estudam design, trabalham com moda em geral e adoram o visual dos skatistas, idies, punks...






Frequentemente são chamados de rebeldes de butique, e são mesmo. Enquanto aqui, o povo faz fila para o saldão da Marabraz e Casas Bahia, lá eles acampam em frente à Prada, Gucci, Louis Vuitton. Todo esse desfile acontece aos domingos, quando as ruas são fechadas ao trânsito. No começo do dia e no fim da tarde, os banheiros das lanchonetes ficam lotados de gente se produzindo ou voltando pro figurino cotidiano. Não, eles não se vestem assim todo dia, as responsabilidades da rotina não permitem.





Enfim, mas o que os Harujuku Guys têm a ver com a gente? Muita coisa, pequeno gafanhoto, muita coisa. Como já disse, eles ditam moda e a consomem. Marc Jacobs vira e mexe diz que se inspira no recanto de Tóquio para suas coleções da Luis Vuitton. Os rappers americanos compram seus acessórios essenciais na Bathing Ape e, claro, Gwen Stefani tem suas 4 Harajuku Girls e sua grife L.A.M.B. Mais próximos de nós, Alexandre Herchcovitch declara-se grande observador desses jovens. Oskar Metsavaht, com que já conversei sem saber quem era (ou não era?), é entusiasta com a cultura de moda no Japão, e isso acaba influenciando suas coleções para a Osklen. Ontem mesmo foi possível ver isso em sua coleção inspirada nas grandes cidades.

Confesso que não tenho jabaculê nem paciência pra ser um Harajuku Boy, mas tenho uma jaqueta vinda daquelas bandas, pena que o calor carioca não me permite usar. E você, tem talento pra seguir o estilo? Mande uma foto pro blog!




Livro: Japanese Beauties
Gross, Alex. Editora Taschen

15.1.08

miyazaki's world

*clip com cenas de O Castelo Animado e o belíssimo tema composto por Joe Hisaishi

Em 2002, “A Viagem de Chihiro” dividiu o Urso de Ouro com o também excelente “Domingo Sangrento”. Até então, o nomes Hayao Miyazaki e Studio Ghibli não eram conhecidos no mainstream cinematográfico. Meses depois veio a indicação ao Oscar de melhor animação, e a Disney (distribuidora nos EUA) teve que dar atenção à animação japonesa. Há uma história que o estúdio do Mickey sempre escondeu os filmes da Ghibli para não competir com suas produções, verdade ou não, o mercado ditado por Hollywood só conheceu as animações de Miyazaki após Chihiro. Uma grande pena, principalmente para quem queria ver e não tinha acesso. Salve a internet!

Os filmes da Ghibli chegavam em casa através de fitas VHS ou Beta (sim, eu peguei a era Beta e seu controle remoto com fio) gravadas ou copiadas por alguém que vinha do Japão. Era a senhora expectativa quando um filme era lançado. “Meu Vizinho Totoro”, “Nausicaa do Vale do Vento” (disponível em HQ), “O Túmulo dos Vaga-Lumes”, “Kiki’s Delivery Service”, “Laputa: Castle in the Sky”, “Porco Rosso”, “Princesa Mononoke”. Tudo era visto e revisto 50 vezes! E como chorávamos!

Há uma incrível simplicidade nessas animações, e ao mesmo tempo são complexas e detalhistas; sofisticação e delicadeza difíceis de serem encontradas num filme comum. As estupendas trilhas foram compostas pelo talentosíssimo Joe Hisaishi. Há alguns anos, ele fez um concerto só com as trilhas, há alguns vídeos no Youtube Salve Todos. Um dos grandes fãs é John Lasseter, antigo chefe de animação da Pixar e atual da Disney. O criador de Toy Story fez questão de supervisionar a dublagem em inglês de “A Viagem de Chihiro”, tudo para que nada saísse do tom ou fosse cortado. Na época do lançamento, circulava a notícia de uma co-produção entre Miyazaki e a Pixar.

Ótimos adjetivos não faltam aos filmes do senhor Miyazaki e seu estúdio. Para nossa sorte, seus últimos filmes têm chegado a terras tupiniquins, agora é torcer pelo lançamento de suas produções anteriores e aguardar “Gake no Ue no Ponyo – Ponyo on a Cliff”. Se você puder ver estes filmes, veja! Faz um bem danado pra saúde!

Meus favoritos e seus respectivos anos de lançamento no Japão. É só clicar para ver o trailer. Desculpe o mega post, mas acho Miyazaki obrigatório. Com exceção de “Túmulo dos Vaga-Lumes”, todos foram dirigidos por Miyazaki.

Nausicaa do Vale do Vento (Kanze no Tani no Nausicaa) – 1984

Laputa – Castle in the Sky (Tenku no Shiro Rapyuta) – 1986

Túmulo dos Vaga-Lumes (Hotaru no Haka) – 1988

Meu Vizinho Totoro (Tonari no Totoro) – 1988

Kiki’s Delivery Service (Majo no Takkyubin) – 1989

A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi) – 2001

O Castelo Animado (Hauru no Ugoki Shiro) – 2004

14.1.08

márcia who?

No final dos anos 80, quando karaokê era apenas uma palavra estranha, Márcia Nishie lançou-se como uma cantora de hits japoneses, na verdade só um hit, o meloso “Furimukeba Yokohama”. Lembra? Apresentou-se até no Fautão! Infelizmente o Youtube não tem esse vídeo, mas dá pra refrescar a memória aqui! De olho numa carreira internacional, Márcia juntou suas trouxas e se mandou pra terrinha, deixando sua Mogi das Cruzes para trás. A jornada épica começou com uma gafe no restaurante. Apesar de cantar em japonês, falava muito mal. Louca pra comer carne, soltou a seguinte exclamação: “Ushi tabetai!” (trad. “quero comer boi!”). Risadas a parte, Márcia perseverou tal qual Scarlett O’Hara. Virou atriz e cantora, casou-se com um ator famoso, flagrou-o com a amante e se separou. Vítimas de muito boatos e flashes, figura constante nas tvs de lá, Márcia tornou-se a filha ingrata de Mogi. Em 2004, declarou: “Aprendi a não ser brasileira e estudei para ser igual a uma japonesa”. Pedradas e tomatadas! Para quem vive aqui, é difícil entender a vida dos dekasseguis (afinal Márcia não deixa de ser uma) e é muito fácil criticá-la. Os japoneses não são tão friendly e a adaptação requer muitos sacrifícios, vide a evasão escolar das crianças brasileiras lá. Todo mundo sabe que para ser aceito num grupinho é preciso ser um deles, afinal, não dá pra ser roqueiro e Cumpadre Washigton ao mesmo tempo. Não sei o objetivo deste post, só queria falar da Márcia e seu eterno hit que me persegue. Aqui tem uma lista de nipo-brasileiros famosos (?). Tá, alguns são bem conhecidos.

12.1.08

seirogan - a trompeta intestinal


Quando se passa por um indesejado período no trono, só há uma solução. Seu nome é Seirogan! O mundialmente conhecido remédio da farmacêutica Taiko é tratado com reverência por quem conhece. Cura qualquer piriri de salpicão na praia. As fedorentas pílulas pretas têm como ingrediente primário o creosote, líquido amarelado resultante da combustão de madeiras como Carvalho (oak), faia (beech) ou bordo (maple). Na família, seirogan é encomenda de quem vem do Japão, mas é possível comprar facilmente em Liberdade. Um remédio de primeira necessidade para quem costuma ter esse problema, eu faço de tudo para não tomar. Atualmente há a versão sem cheiro, mas segundo uma tia (assídua usuária), não faz o mesmo efeito.

10.1.08

ainda sobre comida - conservas e doces

Os japoneses não sabem viver sem as conservas, tantos os mais velhos quanto os modernosos de Harajuku, não é de se espantar que eles tenham um dos maiores índices de câncer intestinal. Os tsukemonos são variados, os mais caros e famosos são os produzidos em Kyoto. Pepino, berinjela, nabo, rabanete, acelga, repolho... Tudo salgado e colocado sob peso para extrair toda a água, ou em vinagre. Há também os apimentados, bem estilo coreano. Muitos são bem fedidinhos. Particularmente, não sou muito fã, prefiro os feitos no mesmo dia, levemente salgados e prensados. O meu tsukemono favorito ever é o umeboshi – a ameixa japonesa em conserva. Vai bem com tudo.




Tsukemonos variados de nabo e pepino / tsukemonos industrializados / os azedos umeboshis .

Os doces são feitos de feijão (azuki) e casam muito bem com chá verde: Mandjus, yokan, oshiruko etc. Não me dou bem com anko (a massa do azuki), o único ser da família e adjacências que não come nada feito de azuki. Uma pena, porque eu acho tudo muito bonito e delicado. Para minha sorte, há os shu-creams, uma espécie de bomba com recheio de chocolate ou creme, mas já pelo nome dá pra ver que não é tão nipônico assim. As confeitarias de lá são lindas, tudo feito numa delicadeza ímpar. Aqui no Brasil há a confeitaria Itiriki, com seus pães e doces à moda japonesa.





Diferentes manjus / yokans / oshiruko / shu-cream




Obentos variados

Onde encontrar produtos japoneses, conservas prontas e obentos (marmitas).

São Paulo

Itiriki – Rua dos Estudantes, 24 Liberdade.

Marukai – Rua Galvão Bueno, 34 Liberdade.

Mercados na Liberdade.

Rio de Janeiro

Fuji – Rua das Laranjeiras, 280 loja D Laranjeiras.

Meijo – Rua Marquês de Abrantes, quase esquina com a Praia de Botafogo.

dieta fusion

Com ou sem intimidade, as pessoas adoram me perguntar sobre tudo. Quando eu era criança, as perguntas vinham em velocidade de metralhadora: “Você mora aqui ou lá?”, “na sua casa você fala português ou japonês?”, “você vai casar com uma brasileira ou com uma japonesa?”, “você anda de quimono?”, “você tem garfo em casa?” etc. Mas a campeã é “você come sushi todo dia?”. Não, pequenos gafanhotos, eu não como sushi todo dia e nem conheço ninguém que coma. Contudo, acho que o cardápio de casa seja diferente da maioria dos lares brasileiros. A começar pelo arroz nosso de cada dia, que é diferente do Tio João do supermercado. Cozido sem nenhum tempero, apenas água.



Uma ultra moderna panela de arroz da Tiger. Conhecidas vulgarmente como "okamas", porém o termo é politicamente incorreto. "Okama" é o mesmo que bicha, viado, salta-pocinha...

Quando estamos fartos de carnes, peixe e coisas cotidianas, apelamos para ochazuke (que é cotidiano, mas não aqui em casa), que nada mais é que uma porção de arroz com chá (ocha), a conserva que tem em casa ou feita na hora, uma omelete; ou simplesmente as sobras na geladeira. Tá certo que é uma refeição light e duas horas depois dá fome, mas dá uma variada no cardápio que é uma beleza. No dia seguinte voltam os bifes, refogados, massas...


Tigelas com arroz, chá e uma mistura para ochazukes (algas secas, biscoito de arroz).


Mas por que fusion? Porque não importa a origem da receita, sempre se incorpora um ingrediente típico japonês (shoyu? Quase sempre aparece) ou um japanese style na hora do preparo. Se não tem funghi ou portobello para fazer o molho que acompanhará a carne, vai shitake mesmo. Pegadores não funcionam, o negócio é usar hashi. Na falta de vinho, o mirin (saquê culinário) equilibra a acidez e dá o aroma alcoólico. Tempurás de legumes e camarão fazem sucesso, assim como o de jiló, coisa nunca vista nas terras de lá. Só meu pai, que uma vez levou escondido algumas sementes e deu para minha tia plantar. Nasceram os jilós mais amargos da galáxia, mas viraram hit.


Arroz, salada verde, carne, conserva de nabo e misoshiro / arroz, misoshiro, peixe grelhado com nabo ralado / arroz, conserva de pepino, misoshiro, mabu dofu (tofu picante), refogado de frando e salada verde.


Os sushis servidos por aqui também precisaram se adaptar. Já que os peixes que lá nadam, não nadam como cá, o jeito foi ver o que o mercado oferece, como o namorado, muito usado em todos os restaurantes (dos desconhecidos aos badalados). Fora as combinações que os mais puristas torcem o nariz, acho que experimentações são sempre bem-vindas, mas não me venha com sushi de morango e abacaxi!

A culinária japonesa é bem definida, mesmo utilizando os mesmos produtos que os outros países asiáticos usam. Já a brasileira é uma coisa, incorporou as influências de todos os imigrantes que aqui permaneceram. Naturalmente, a gente também. De estrogonofe a charuto, passando por risoto e lasanha, com direito a apple crumble e sachertorte de sobremesa. Ah, no feijão a gente não mexe, mas come com arroz japonês. E eu adoro um queijo ralado por cima.

100 anos atrás




Lá no início do século XX, quando o Japão deixou de ser feudal e passou a mecanizar suas lavouras, milhões de trabalhadores perderam seus empregos e a miséria se alastrou pelas cidades. O que fazer com tanta gente? Mandar pra fora, ora. Na mesma época, o governo italiano havia proibido a imigração de seus filhos para o Brasil, logo, a terra prometida estava carente de trabalhadores nas lavouras de café. E foi assim que, em junho de 1908, 165 famílias desembarcaram no Porto de Santos.

Kasato Maru, o navio que trouxe as primeiras 165 famílias / Imigrantes indo para o interior.

Com o fim da Primeira Guerra, o número de imigrantes deu um grande salto. Além de resolver o problema demográfico nas cidades rurais, o governo japonês queria expandir a etnia e a cultura nipônica pelo mundo. A maioria deles permaneceu no campo, desenvolvendo o cultivo de arroz, morango, chá e pimenta-do-reino. Bom, se temos verduras, legumes e frutas de alta qualidade hoje, devemos aos agricultores japoneses que aperfeiçoaram as plantações com irrigações, estufas e enxertos.

Estima-se que há 1,5 milhão de nipo-brasileiros hoje, a maior colônia japonesa fora do Japão. Se lá no início do século passado, o governo japonês queria disseminar a cultura e a etnia de seu país, acho que conseguiu. Ou foi o contrário? Não importa. Em comemoração ao centenário da imigração japonesa, abro este modesto blog para esmiuçar o cotidiano de uma família japonesa há quase 50 anos nesta terra. Não, não, não sabemos sambar, mas adoramos uma moqueca e falamos “paralelepípedo” sem embolar a língua. Falamos e damos aula de japoguês.